ANALISANDO COM O OLHAR DO HERTZBERGER

 

Herman Hertzberger, famoso arquiteto holandês, discute em seu livro: ‘’Lições de Arquitetura’’, de maneira prática, sobre o construir arquitetônico. Neste texto, farei uma aproximação entre os exemplos e conceitos abordados pelo Hertzberger e os meus espaços cotidianos.

 



O autor inicia o livro fazendo uma discursão sobre o significado de público e privado e que esses significados necessitam de um ponto de referência para tal classificação. Segundo o autor, público é uma área acessível a todos, em qualquer momento, e que a responsabilidade de manter o local é assumida coletivamente. Privado é uma área cujo acesso é determinado por uma pessoa ou por um grupo pequeno, que tem a responsabilidade de mantê-la. Essas definições podem ser observadas através dos espaços aqui em casa. A sala, a cozinha e o banheiro, são locais mais públicos se comparados com os quartos de cada membro da família. Porém, os espaços mais públicos aqui dentro de casa, se comparado com o exterior, a rua, os vizinhos, por exemplo, se tornam privados.

 Na parte A do livro, no segundo tópico: ‘’Demarcações Territoriais’’, o autor esclarece que o significado de público e privado vai muito mais além do que a definição dada pelo dicionário, depende do grau de acesso, da forma de supervisão, de quem utiliza esses espaços, de quem cuida, etc. Nesse tópico, esses termos são tidos como inadequados, pois, muitas vezes, o espaço público é utilizado para interesses particulares, o que coloca seu caráter em questão por meio do uso, além de fortalecer a demarcação por parte do usuário dessa área aos olhos dos outros. Tal situação, é presenciada na rua da minha casa, que é utilizada, muitas vezes, para festas/churrascos privados, para estacionamentos ou, até mesmo, para secar roupas e móveis. Além desse aspecto, a rua da minha casa é utilizada, muitas vezes, para promover o contato social entre os moradores. As ‘’ruas de convivência’’ levantadas pelo autor no nono tópico, que está baseada na ideia de que os moradores têm algo em comum, expectativas mútuas, é, ainda, muito explorada na rua da minha casa. Os vizinhos utilizam de uma espécie de sala de estar, feita no espaço público, que, antes, era utilizada para se colocar lixo, para jogar, conversar e olharem as crianças brincarem. Tal exemplo, também, se atrela ao escrito pelo autor no segundo tópico: ‘’Demarcações Territoriais’’, visto que o espaço público é utilizado para interesses privados.





Na parte C do livro: ‘’Forma Convidativa’’, Hertzberger aborda, no ponto 4: Visão II, a capacidade que o arquiteto tem de ampliar/reduzir o campo de visão do espaço. Essa perspectivava pode ser explorada quando, na construção, se leva o ambiente exterior para dentro da edificação, por meio de aberturas através dos vidros e/ou janelas, que propicia uma visão mais ampla e intencionada entre os ambientes. Essa concepção de abertura é explorada através da janela de vidro do meu quando, que permite uma não separação do mundo interior com o mundo exterior, trazendo para dentro do quarto o horizonte, expandindo, assim, o espaço arquitetônico. 


Ao mesmo tempo que a janela do meu quarto propicia o contato exterior com o interior do meu quarto, os muros altos nas laterais da minha casa reduzem, um pouco, o campo de visão com o lado externo. Esses muros, que, antes, eram mais baixos, e que foram aumentados com o intuito de propiciar mais privacidade para os moradores daqui de casa,  são  barreiras físicas e visuais, elas confirmam o ‘’medo do que acontece no mundo exterior’’, observado pelo autor em diferentes países e que é totalmente diferente dos costumes holandeses, onde as casas possuem muita abertura para o espaço exterior, através do uso de vidros nos edifícios. Lá, a abertura é uma grande característica da sociedade. 

 

Atrelado ao exemplo do meu quarto, o autor discute, no quinto tópico da parte A do livro, sobre a necessidade de um ‘’ninho seguro’’ na vida das pessoas. Esse ‘’ninho seguro’’ é o meu quarto. É um local onde eu sei que tenho para retornar, para me pousar. É onde eu sei que posso me concentrar sem ser perturbado pelos outros.




O autor também discute, no tópico 6: Funcionalidade, Flexibilidade e no decorrer do livro, sobre à flexibilização/versalidade dos espaços, que podem proporcionar diversas formas de ocupação e apropriação, de acordo com a necessidade de uso. Tal aspecto, de maneira análoga, pôde ser observado nesse período pandêmico, onde houve multifuncionalidade nos ambientes da minha casa, de forma não intencional. As atividades de lazer, trabalho, estudos, atividades físicas que, antes, eram realizadas fora de casa, passou a ser realizadas nos espaços de convivência da casa. Um cantinho da minha sala, por exemplo, passou a ser utilizado como espaço de home office e de estudos. A sala, também, foi muito utilizada para atividades físicas.


(Espaço da sala que foi modificado para atender às necessidades do ensino remoto)


No quarto tópico da parte A, é discutido sobre ‘’Zoneamento Territorial’’, que as características de cada área dependem de quem se sente responsável por ela. É utilizado diversos exemplos, no livro, que se assemelham, de maneira análoga, às mudanças feitas nos meus espaços domésticos nesse período de pandemia, onde os moradores daqui de casa, incluindo eu, modificaram os espaços de acordo com as suas necessidades e desejos pessoais.  

O conceito de ‘’grelha’’, que é ordenamento por meio do planejamento urbano, uma certa regularidade, onde se parte de ‘’lotes quadrados ou retangular e ruas cercando as quadras cujas dimensões correspondem ao método de construção escolhido...’’, abordado pelo autor no quarto tópico da parte B do livro, não se faz tão presentes no meu bairro. As casas e ruas, muitas sem saída, constroem um formato mais desordenado e autônomo.



Enfim, foi possível perceber, por meio dos meus exemplos cotidianos, que muitos conceitos apresentados pelos Hertzberguer se fazem ausentes na sociedade atual, o que evidencia, ainda mais, a necessidade de reflexão por parte do arquiteto ao criar determinado espaço, uma vez que a eficácia, a necessidade e o cotidiano das pessoas devem ser a base chave para qualquer projeto satisfatório.













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